Na produção de proteínas e enzimas de interesse industrial e farmacêutico, é muito comum utilizar sistemas procariontes de expressão.
Entretanto, em alguns organismos, como E. coli, a expressão é às vezes dificultada por propriedades bioquímicas da proteína, do padrão de uso de códons e das estruturas secundárias no transcrito.
Além disso, é importante que o produto seja facilmente purificado e detectado ao longo da produção.
Para contornar essas dificuldades, é possível utilizar tags, peptídeos ou proteínas que clonados in tandem ao gene de interesse são capazes de facilitar a produção, detecção e purificação da proteína.
É importante dizer que, ainda que possam formar proteínas quiméricas, é possível separar o gene de interesse da tag, visto que podem alterar a atividade enzimática e a ligação a outras proteínas.
Peptídeo sinal
O peptídeo sinal pode ser considerado uma tag de localização celular. A sequência, que inicia no N-terminal, determina se a proteína se concentrará no citoplasma, periplasma, superfície celular ou se será secretada para fora da célula. A localização da proteína correlaciona com a capacidade de formação de pontes de dissulfeto Cys-Cys e aumento na qualidade conformacional, que ocorrem no periplasma, mas não no ambiente redutor citosólico. Ao secretar proteínas, é possível obter o produto com qualidade estrutural e com custos reduzidos, uma vez que a proteína é purificada diretamente do meio de cultura, sem a necessidade de lise celular.
Tags
C ou N terminal: Onde inserir a tag?
Ao inserir uma tag de expressão ou de solubilidade no N-terminal, como a MBP, é possível aumentar a eficiência de tradução da construção. No entanto, é importante avaliar os possíveis impactos estruturais e funcionais da tag em relação à proteína de interesse.
Tags de purificação e afinidade
As tags de afinidade são geralmente peptídeos com função antigênica ou quelante. Tags como FLAG são detectáveis por anticorpos e facilitam em experimentos de detecção, como Western Blotting, e purificação por cromatografia de afinidade.
Já a Hist Tag, embora também seja detectável por anticorpos anti-His, é mais utilizada na purificação em coluna de Ni, IMAC. A His-tag desempenha um efeito quelante com o Ni da resina, ligando-se na coluna e desligando-se na presença de imidazol.
Tag | Tamanho | Sequência | Afinidade | Eluição |
His-tag | 0,8 kDa | HHHHHH | Níquel, cobalto | Imidazol, histidina, pH |
FLAG | 1 kDa | DYKDDDDK | Anticorpo anti-Flag | Peptídeo Flag, Clivagem, pH |
Tags de expressão e solubilidade
As tags de solubilidade são proteínas nativas altamente expressas no sistema, como a MBP e SUMO. Ao fundi-las no N-terminal do gene de interesse, é possível aumentar a expressão, solubilidade e garantir um folding correto de uma proteína insolúvel ou pouco expressa no sistema de expressão.
O efeito de solubilização e de folding correto dessas tags é resultado da 1) capacidade de recrutar ou exercer o papel de chaperonas moleculares; 2) da formação de micelas; e 3) da repulsão eletrostática entre proteínas.
Tag | Nome | Tamanho | Origem | Expressão | Função | Mecanismo |
MBP | Maltose-binding protein | 43 kDa | E. coli | Periplasma | Expressão e solubilidade | Efeito chaperona |
TrxA | Thioredoxin A | 12 kDa | E. coli | Citoplasma | Solubilidade | Prevenção de formação de corpos de inclusão |
GST | Glutathione S-transferase | 26 kDa | Schistosoma japonicum | Citoplasma | Solubilidade e afinidade | Proteção contra proteólise |
SUMO | Small ubiquitin-related modifier | 11 kDa | Eucariotos | Citoplasma | Expressão e solubilidade | Efeito chaperona |
Sequências de clivagem
Embora tags sejam úteis no processo de expressão e purificação, é importante que não estejam presente no produto final. É possível retirar tags por meio de clivagem enzimática de sítios de clivagem por endopeptidases, como a enterokinase, trombina, fator Xa e TEV protease.
Enzima | Sítio de clivagem |
Enterokinase | LVVV |
Trombina | LVPR↓GS |
Factor Xa | LVPR↓GS |
TEV protease | ENLYFQ↓G |
SUMO protease | N-SUMO-GG↓ |
Tags de fluorescência
Proteínas fluorescentes são uma ferramenta muito útil para melhorar a visualização de estruturas e processos celulares e moleculares, além de auxiliar na detecção ao longo do processo de produção e purificação de proteínas.
Desde a descoberta e utilização da GFP da água-viva Aequorea victoria, mais proteínas fotoativas com cores diferentes foram estudadas e otimizadas para o aumento do brilho e para compreender um amplo espectro da luz, do UV ao infravermelho.
Proteínas que absorvem no infravermelho foram derivadas do fitocromo bacteriano e são úteis para estudos in vivo. Com essas proteínas, é possível visualizar órgãos intactos em camundongos, drosófilas e zebrafish, por exemplo.
Dentre essas proteínas, estão:
Tags | Comprimento de onda (nm) | Cor |
GFP, EGFP, Superfolder GFP | 440-488 | azul, ciano |
TagBBFP, EBFP | 350-405 | violeta |
Clover, NeonGreen, EYFP | 488-515 | verde |
mRuby3, TagRFP | 581 | amarelo |
mCherry, smURFP, mStrawberry | 581-647 | vermelho |
Em resumo, as tags são importantes ferramentas na produção de proteínas e enzimas de interesse industrial e farmacêutico, em sistemas procariontes e eucariontes de expressão.
Elas facilitam a expressão, solubilização, detecção e purificação das proteínas. O peptídeo sinal, uma tag de localização celular, determina a localização da proteína e pode ser usada para secretar proteínas diretamente do meio de cultura, reduzindo custos e aumentando a qualidade estrutural do produto. As tags de purificação e afinidade, como His-tag e FLAG, são utilizadas na purificação por cromatografia de afinidade e experimentos de detecção. As tags de expressão e solubilidade, como MBP e SUMO, aumentam a expressão, solubilidade e garantem o folding correto de proteínas insolúveis ou pouco expressas.
Por fim, é possível retirar as tags por meio de clivagem enzimática de sítios específicos de clivagem. O uso correto e adequado de tags pode melhorar significativamente a produção de proteínas e enzimas de interesse.
Referências
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